sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"A vida não passa de uma oportunidade de encontro. Só depois da morte se dá a junção. Os corpos apenas têm o abraço; as almas têm o enlace." (V.H)




"Dois. Apenas dois. Dois seres, dois objetos patéticos. Cursos paralelos frente a frente. Sempre... a se olharem. Pensar talvez: "paralelos que se encontram no infinito". No entanto, sós por enquanto. Eternamente dois, apenas." (Pablo Neruda)

Era noite. Todos estavam alegres - era perceptível. Alguns dialogavam sobre temas pertinentes, dois ou mais sobre o dia-a-dia, e outros, só pra variar, sobre nada que pudesse se aproveitar. Eu estava meio deslocada, não me encaixava em nenhum dos grupos de conversa. Não por não querer, e sim por não conseguir. Eu me encontrava distante, com o pensamento longe. Por um momento não pude ouvir as pessoas falarem... por um momento não enxerguei ninguém. Eu apenas fingia existir naquele instante.
E foi então que ele apareceu. A princípio, sobressaltei-me. Afinal, há algum tempo ele não se manifestava. No entanto, aos poucos passei a entender aquele instante.
- Eles podem vê-lo também? Perguntei.
- Não. Ele disse.
E então o abracei... um abraço contaminado de saudade. Não pensei na hora se as pessoas que ali estavam iam me ver tomando aquela atitude, se iam achar estranho ou pensar que eu era uma maluca. A saudade foi tão mais forte e tão maior, que eu não pude cessar. Não pude estancar aquilo que há tanto tempo eu sentia falta de fazer.
Nós passamos, então, a caminhar por entre aquela natureza que nos rodeava. Eu tentava contar, rápido demais, tudo que tinha se passado por aqui, com medo de ele desaparecer novamente e acabar não sabendo de tudo. Mas que bobagem minha! Mal sabia que ele já tomara conhecimento de todos os fatos.
No meio do meu falatório sem fim, ele parou e perguntou:
- Você confia em mim?
Balancei a cabeça como quem diz que sim. E ele falou:
- Então vem comigo!
- Pra onde? Eu indaguei.
E ele apenas abaixou a cabeça, pegou minhas mãos levemente, e foi me levando...
Chegamos a uma sala, da qual eu jamais havia tido conhecimento - e olha que aquele lugar me era muito familiar. Ele pediu para que eu deitasse. E, em seguida, deitou-se também. As paredes começaram a se fechar, como se nos esmagar fossem. Tive um pouco de medo, mas ele estava segurando as minhas mãos. De repente, uma luz branca incandescente se formou, e, quando dei por mim, encontrávamo-nos num lugar no qual eu jamais tinha ido. Inicialmente, estranho. Algumas pessoas por lá... - que, por sinal, eu também nunca havia enxergado em minha vida. Fiquei tão estarrecida, que nem notei o seu sumiço.
- Onde você está? Eu gritava, já com princípio de desespero.
Porém, ninguém respondia.
Meus nervos foram ficando à flor da pele. Além da aflição por ali estar solitária, batia-me um desânimo e uma falta de esperança cruel, por pensar que, mais uma vez, ele havia me abandonado.
Gritei por todo aquele imenso lugar. Entretanto, só ouvia minha voz ecoar por entre as escadas. Resposta alguma me era dada.
Depois de tanto andar e de tanto clamar, já cansada, encontrei a saída daquele local. E, ao colocar o pé fora dali, ele tornou novamente a aparecer. E eu, num ataque de fúria, reclamei sem parar. Ele apenas sorria... como sempre. O que me irritava ainda mais. Só que talvez eu tenha compreendido o motivo daquilo... ele queria que eu conhecesse a sua nova casa. E como tive de subir e descer por todas as escadarias, como tive que andar em cada sala, em cada quarto, em cada pequeno espaço para encontrá-lo, acabei por desvendar o seu novo lar.
Era óbvio que eu não queria que ele estivesse lá. Queria que ele estivesse aqui, pra eu poder vê-lo todos os dias, como sempre foi desde que eu o conheci. Contudo, tivemos de aceitar a adversidade que a vida nos colocou.
Despedi-me dele com mais saudade do que antes, com mais dor no peito do que antes, com mais lágrimas rolando. Todavia, agora eu voltava com algo a me confortar: eu sabia onde encontrá-lo da próxima vez.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mar de amor.



Agora realmente sei que uma gota pode mudar tudo.
Por um momento me senti como um mar a desaguar. Senti como se de nada tivesse adiantado tanta luta para mantê-lo cheio (de amor). Percebi que de nada adiantara tantas ondas (causadoras de estranhas palpitações em meu coração). Pressenti que tudo aquilo que havia sido construído durante a preamar, encontrava-se em plena seca.
E eu, que estava acostumada a viver em um tsunami de emoções, notei, bem diante dos meus olhos, a baixa-mar. Mas logo eu, que nunca me contentei em ver algo escorrendo de minhas mãos feito areia, assistia à acomodação daquele mar.
Aquela cena era hórrida! Devastava meu peito, como uma floresta em chamas. Me causava angústia e sofrimento. E eu que sempre faço de tudo para não sofrer, resolvi deixar meu orgulho de lado e conversar com aquele mar. Assim, de cara. Fui "bater uma real". Contei, letra a letra, tudo - exatamente tudo - que se passava aqui dentro ao observar, aos poucos, sua partida. De prontidão, não percebi atitude alguma. Pensei, naquele momento, que ele fosse continuar a recuar com suas águas, deixando-me sem respostas (com o coração cheio de interrogações). E foi então que percebi uma pequena postura: havia estagnado. Não secava, e nem enchia. Não era a resposta que eu esperava, mas talvez ela pudesse vir logo após.
E foi então que, entre meu emaranhado de pensamentos, senti meus pés serem molhados por algumas gotas de água... elas se proliferavam depressa. De repente, meus pés já estavam cobertos. Eu mal conseguia me mexer. Sim, ele havia voltado a encher! Tamanho prazer tomou conta de mim naquele instante. Um mister de sensações dominou meu peito! Finalmente a preamar voltara. Finalmente o mar de amor voltara a encher os meus dias de alegria.

sábado, 20 de março de 2010

Um conto de bons amores em maus tempos.



Era uma tarde de céu nublado... o que já não é novidade, já que há mais de um mês tudo que se vê por aqui são nuvens pesadas, o tempo fechado e, claro: chuva. Muita chuva! Mas aquele dia - especialmente aquele dia - foi diferente. Talvez porque a minha TPM tivesse ido embora e, consequentemente, o meu mau humor e a minha cara fechada tivessem, finalmente, deixado-me em paz. Não. Não era isso. Como eu posso querer me enganar desta maneira? Como eu posso querer fazer com que os meus olhos exerguem o que, na verdade, EU não quero enxergar? Como eu posso, com tamanho egoísmo, querer exigir que o meu coração não sinta o que, de fato, ELE quer sentir? Como eu posso, com toda esta audácia, tentar desviar meus pensamentos, enganando-os como político em período eleitoral? Se eu continuar nesta sequência lógica, vou colecionar inúmeros "Como eu posso?", sem obter o que eu mais preciso e o que mais me é necessário compreender: o amor. Eu não sei, no entanto, se é isso que chamam de amor. Esta coisa estranha, que faz as pernas tremerem, o coração bater mais forte, as mãos suarem e o corpo entrar em festa (ou seria em pânico?), como se os seus órgãos se entrelaçassem e confundissem os seus lugares de origem umas cem vezes, ficando num vai-e-vem sem fim; e isso tudo em menos de 30 segundos. Sim. É só o tempo de você colocar o olho naquela pessoa. É isso! É isso que vem acontecendo comigo há pouco mais de um mês. Aliás, peguei-me com estes sintomas desde o dia em que caiu a primeira chuva, que originou estes consecutivos dias cinzentos. Desde lá isso não tem me deixado em paz. Toda manhã eu sinto todos os sintomas se repetirem. Eles já fazem parte da minha rotina black and white. Sempre que estou chegando à escola, geralmente às 07:15 da manhã, pedalando incansavelmente na minha inconfundível bicicleta azul, eu o vejo. Eu o vejo parado no primeiro portão de entrada. É como se ele estivesse me esperando. É isso que eu sempre penso. Mas que bobagem a minha... claro que não é por mim que ele espera. Ele nem ao menos sabe o meu nome! Mas naquele dia ele estava me olhando, eu juro. Naquele dia, como não de costume, cheguei atrasada, debaixo de uma chuva, acompanhada de muitos trovões e relâmpagos. Eu estava tão entretida com tamanho medo que me dominava - sim, eu odeio trovões e relâmpagos! -, que nem havia percebido a presença daquele ser misterioso e encantador, ali, no primeiro portão de entrada, como sempre. Todos ja haviam entrado. Por que, então, ele continuara naquele local? Por minha causa? Não, não pode ser! Ele é tão lindo, tão inteligente, tão sagaz... nunca se interessaria por mim! Mas, sim, ele parecia interessado. Aqueles olhos castanhos fumegantes, aquela pupila dilatada corrente em minha direção... ainda desviei o olhar sorrateiramente, para confirmar se não havia ninguém por perto. E, de fato, não havia. Então... sim! Eu pude confirmar: isso, definitivamente, não era coisa da minha cabeça.
Desde aquele dia venho refutando minhas idéias, meus pensamentos, meu sentimento e a minha reação diante daquele ser. Nunca amei e, confesso: tenho medo disso. E é por isso que venho relutando em aceitá-lo. Mas sempre ouvi dizer que "o que for pra ser, será", então, por que não?! Resolvi dar um tempo em toda esta angústia - que me dominava até então, por não saber o que fazer. Decidi que, a partir de hoje, meus dias cinzentos continuarão cinzentos diante dos meus olhos, mas aqui dentro, AQUI, onde bate uma coisa vermelha e estranha, tudo vai começar a se colorir...

terça-feira, 16 de março de 2010

"A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende." (Arthur Schopenhauer)



Eu não sei vocês, mas eu, pelo menos, amo música! Fico simplesmente extasiada quando as melodias atravessam o meu canal auditivo. Mas eu amo música boa. Música de qualidade. Música que, definitivamente, DÊ pra se ouvir. Sou bem eclética, admito. Mas há algumas coisas por aí... que eu prefiro mesmo chamar de "coisas", porque músicas não não; nem nunca vão ser, diga-se de passagem. Mas, ok, cada um com seu gosto (e que péssimo gosto alguns têm!). Tenho uma paixão demasiada por músicas que tocam a alma. Sim! Música é muito de alma! Como bem disse, um dia, o escritor Rubem Alves: "Toda alma é uma música que se toca". Você pode até admirar uma boa composição, um bom arranjo, uma boa interpretação... mas se a música não tocar a sua alma, fica por ali, na admiração mesmo. Mas se ela tocar... digo: se você bater o olho e pensar: "Para tudo! Essa música foi feita pra mim!", ah, meus caros, aí tudo muda. O Universo inteiro conspira a favor. É questão de se identificar. De tocar a alma, como eu venho dizendo. Isso não quer dizer que eu deixe de comprar Cds, porque nenhuma música me tocou e nem pareceu ser feita exatamente pra mim. Isso seria uma asneira tamanha! Mas é que quando existe essa música, que parece ter sido inspirada na sua vida, a sua vontade de comprar é muito maior. Você tem a sensação de que o seu dinheiro foi mais bem empregado, exclusivamente por causa daquela canção. Não sei explicar muito bem. Mas Chico Buarque saberia...
Eu posso dizer, com toda certeza, que pra cada fase, pra cada etapa, pra cada acontecimento da minha vida existe uma música! Há músicas que, quando eu ouço, eu lembro exatamente de algum fato marcante que me aconteceu. É instantâneo: ouvi - lembrei. E aposto que com você acontece o mesmo! "A música cria um passado que ignorávamos" (Oscar Wilde). O engraçado é que, ao ouvir, e até mesmo ao ler certas músicas, a gente acaba achando que o compositor as compôs pensando na gente, no nosso dia-a-dia, na nossa situação vivida, não é? Às vezes isso até me impressiona.
"Como assim?! Por que ele está falando isso?! Impossível! Isso aconteceu comigo! Chico Buarque anda investigando minha vida, e eu não sei?!". Tudo bem, segunda vez que falo de Chico Buarque. Preciso revelar: amo Chico! Gente, parece que esse homem me entende em todas as situações! Sempre que ouço uma música sua, que retrata exatamente o que eu estou passando, o pensamento vem automaticamente: "É, Chico, só você pra me entender." Mas, é claro, Chico é apenas uma de minhas preferências. Não gosto muito de fazer citações, porque sempre me esqueço de algo/alguém, e acabo me arrependendo depois. Mas posso dizer que não há nada como uma MPB, uma Bossa Nova, um Samba de Raiz... e por que não um Rock?! (Mas rock bom, tá, gente?! Por favor!)
Jurei, antes de começar o texto, que não iria revelar minhas preferências. Mas isso é um feito quase impossível, pelo menos pra mim, quando o quesito é música. Por isso, desculpem-me! Mas aí estão minhas seleções de gêneros musicais. E, afinal, pra que esconder, não é mesmo? Já diz o ditado: "Gosto é que nem...", bom, melhor parar por aqui.




sábado, 13 de março de 2010

"Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia." (Cazuza)




Todo dia a gente vê propagandas na televisão, recebe folhetos na rua, ouve alguém falar: Diga não às drogas! Diga não ao álcool! Diga não à isso, diga não àquilo. Por isso eu me senti no direito de, hoje, aqui, lançar uma campanha: DIGA NÃO AO TÉDIO!
Essa é pra todos que, assim como eu, estiverem se sentindo completamente, exageradamente - e por tempo indeterminado - entediados.
Vou confessar à vocês: ano passado eu reclamava da minha rotina, achava que tudo era muito cansativo. Todos os dias, ao acordar, minha mente era condicionada a pensar: "Ah, não! Tudo de novo hoje...". Então, por achar que eu estava me desgastando demais, por não concordar com tamanha agressão ao meu dia-a-dia, resolvi mudar a situação que tanto me incomodava: o habitual itinerário. Mudei. Abri 2010 com uma rasteira, um short e uma blusa 3/4 branca, pulei as 7 ondas e me fiz o juramento de que este ano ia ser diferente! Até agora, pelo menos, tudo está acontecendo de forma bem diversa do ano que passou. Principalmente quanto ao quesito que mais havia me causado incômodo em 2009: a droga de rotina!
Uma sinopse: Larguei dois trabalhos e parei a academia. Continuei na faculdade, no curso de inglês e concentrei as aulas de dança que eu dava em uma Academia todas para a Sexta-Feira.
Resultado: manhãs livres. Tardes de Terças e Quintas totalmente livres.
Ah, como era bom! Eu me sentia excessivamente aliviada. Parecia que 50 kg haviam sido retirados das minhas costas. A PRINCÍPIO. Há algo que nós não podemos negar: quem já se adaptou à rotina, por mais que reclame ininterruptamente, por mais que tenha uma ânsia infidável de sair de todas as suas atividades, por mais que viva dizendo "Que vontade de jogar tudo pro ar!" (típica frase de pessoas que sofrem de SR - Síndrome da Rotina) NUNCA irá se acostumar, pelo menos não por muito tempo, à vida ociosa. A pessoa se torna dependente. Necessita de um "veneno anti-monotonia", como diria Cazuza. Então eu vos digo, meus caros: se antes eu achava que fazer muita coisa era chato, agora eu tenho certeza de que fazer NADA é muito pior! O tédio é a coisa mais chata de todas as coisas mais chatas do mundo! Se é que vocês me entendem. É uma procura do que fazer que não acaba mais! Você inventa, inventa... mas parece que toda criatividade é exímia diante de tanto tempo que lhe sobra! Aliás, não parece. É. É e vai ser sempre. E só agora eu percebi. Definitivamente, desencantei-me. Pensei que uma pitadinha de tédio fosse me fazer descansar e, até mesmo, revigorar. Mas vi que não. Por isso, cá estou, tentando, DESESPERADAMENTE, voltar à minha velha e boa rotina, proclamando e divulgando, com toda intrepidez de minha parte, a campanha "DIGA NÃO AO TÉDIO!" ;)